Vinho Chinês (Final)
Terminamos a primeira parte deste tema comentando que o terroir de algumas regiões da China são propícios à vinicultura mas que faltava mão de obra.
Para solucionar este problema e absorver o know how necessário, empresários do país passaram então a comprar vinícolas em território francês. Esses empreendedores tem encontrado donos de chateaux simpáticos ao seu dinheiro tudo porque os impostos sobre herança na França tornam muito caro transmitir o patrimônio as novas gerações. Mas a chegada dos asiáticos não veio livre de ruídos. Alguns deles decidiram trocar o nome de propriedades bicentenárias, batizando-as de “Coelho imperial” ou “Antilope Tibetano”.

Em 2016, o jornal O GLOBO ilustrou bem o apetite dos chineses pela França: o bilionário chinês Jack Ma, fundador do portal de comércio eletrônico Alibaba, comprou duas vinícolas na tradicional região de Bordeaux por cerca de € 12 milhões. As propriedades Chateau Guerry e Chateau Perenne datam do século XVIII e eram do magnata dos vinhos Bernard Magrez. Em fevereiro do mesmo ano, Ma já tinha comprado o Chateau de Sours, também na região de Bordeaux. O Chateau Perenne tem mais de 64 hectares e produz cerca de 500 mil garrafas de vinho tinto e branco por ano. Já o Chateau Guerry é a mais antiga propriedade da área de Cotes de Bourg, com produção de 84 mil garrafas de vinho tinto por ano em 20 hectares.
Os franceses dizem que a estratégia deles é vender as vinícolas que produzem vinhos medianos para se manter nos de mais alto nível, mas em 2012 um milionário chinês comprou uma prestigiosa vinícola de Gevrey-Chambertin, em Bourgogne, de onde vêm alguns dos vinhos mais caros do mundo. Para nós do Boas Taças os chineses estão agindo com a vitivinicultura como agem nas outras industrias, então, muito em breve estaremos degustando vinhos chineses com naturalidade.
Eu tive uma experiência interessante em uma das minhas viagens de trabalho à China entre 2007 e 2009: a curiosidade de degustar um Cabernet Sauvignon de rótulo Great Wall produzido na província de Shandong pelo maior produtor de vinhos chinês de mesmo nome. Mesmo depois de tantos anos ainda lembro-me da experiência nada agradável do seu aroma e do seu gosto mas certamente, depois de tantos anos, ele deve ter melhorado. Pesquisei as avaliações do Great Wall no Vivino e ele aparece com 2,4 estrelas em 5. Um vinho básico! Na época em que o degustei ele deveria ser 1 estrela ou menos. Pelo visto está em evolução.

Com a compra das vinícolas na França, o aprendizado que os chineses estão tendo por lá e com a importação de mão-de-obra de lá, aliado a estratégia de copiar e aprender que os chineses desenvolveram, estou convencido que ouviremos falar muito sobre, e beberemos, vinhos chineses em um futuro breve. Não podemos esquecer porém que em meados de 90 os japoneses saíram a comprar apartamentos, vinícolas e empresas em alguns países do mundo de forma intensa. Muitas vinícolas da França foram alvo de aquisição dos japoneses na época, um movimento que com o tempo se reduziu. Acho que com a China vai ser diferente até porque eles têm terras propícias à vinicultura.
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